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Bate papo com Nobel na Reunião Anual da SBQ

RMN, CIÊNCIA & ESPORTE: Bate papo com Nobel na Reunião Anual da SBQ vai muito além da Química

Por Lúcia Beatriz Torres/ Serendipity Comunicação

A convite da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), Kurt Wüthrich, Prêmio Nobel de Química em 2002, viajou até o Centro-Oeste brasileiro para proferir uma conferência em sua 39a. Reunião Anual. Observador, logo ao chegar na cidade de Goiânia notou que ao redor do hotel em que estava hospedado havia quatro institutos de Ressonância Magnética Nuclear (RMN). A constatação não veio ao acaso, pois Wüthrich foi laureado com o Nobel justamente por pesquisas nesta área. Só que ao invés do corpo humano, o seu foco de estudo são as proteínas.

Isso mostra que a técnica está bem difundida atualmente” - declarou o cientista, logo na abertura de sua conferência, aproveitando o gancho para mostrar imagens da ressonância feita em seu joelho, antes e depois de algumas décadas jogando futebol. Apaixonado por esportes desde a adolescência, Kurt Wüthrich jogou em uma liga de futebol até beirar os 50 anos de idade, o que lhe rendeu algumas “avarias” em suas articulações.

Professor do Instituto Scripps, no estado da Califórnia, nos EUA, e docente na Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH), na Suíça; desde julho de 2012, o Prof. Wüthrich atua ainda como Professor Visitante Especial na Pós-graduação em Química Biológica da UFRJ. Em terras brasileiras através do Programa "Ciência sem Fronteiras”, o Nobel orienta alunos de doutorado e pós-doutorado vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem (INBEB).

Um passeio pela história da RMN

Muito aguardada pelos participantes do evento, principalmente entre os mais jovens, a sessão com Kurt Wüthrich aconteceu na tarde do dia 1o. de junho. O bate-papo com o Nobel foi precedido de uma conferência intituladaNMR in 2016 - Fruits from Two Centuries of Basic Research, em que o laureado fez um passeio pela descoberta e evolução da técnica, rendendo tributo àqueles que pavimentaram a via científica, para que pudesse chegar ao estudo que lhe rendeu o Nobel.

Kurt Wüthrich foi premiado com o Prêmio Nobel em Química, em 2002, pelo desenvolvimento da técnica de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) para elucidação de estruturas de macromoléculas, o que tornou possível usar a RMN para estudar as proteínas em solução. A descoberta revolucionou a forma de desenvolver novos fármacos e medicamentos, pois possibilitou o estudo das moléculas em condiçōes próximas às fisiológicas, em ambiente similar ao do interior da célula.

Atualmente, a RMN é uma técnica amplamente utilizada por diversas áreas como biologia, química, física, medicina (principalmente o imageamento, que é uma abordagem não-invasiva de diagnóstico médico). O professor contou, entretanto, que durante a década de 60, quando ele ainda era estudante, a RMN estava apenas começando como uma ferramenta analítica em química. A biologia molecular ainda não estava estabelecida como uma disciplina independente e a cristalização de proteína 3D ainda emergia.

Em sua conferência na 39a. Reunião Anual da SBQ, o Dr. Wüthrich apresentou cientistas que foram pioneiros no campo de estudo da RMN. Pieter Zeeman (1865- 1943) recebeu, em 1902, o Prêmio Nobel de Física, por seu trabalho sobre radiações eletromagnéticas. Cinquenta anos depois, Felix Bloch (1905-1983) e Edward Mills Purcell (1912-1987) foram distinguidos com a mesma honraria, em 1952, pelo desenvolvimento de métodos para a medição do magnetismo nuclear, especialmente a Ressonância Magnética Nuclear.

Segundo Wüthrich, Albert Einstein teve um papel fundamental nestes avanços quando, em 1905, publicou um tratado explicando o “Movimento Browniano”, descrito pelo botânico inglês Robert Brown, em 1827. Átomos e moléculas haviam sido teorizados por Brown como constituintes da matéria, mas só décadas depois, Einstein veio comprovar sua existência no tratado em que explicava em detalhes precisos o “Movimento Browniano”. O termo também pode se referir ao modelo matemático usado para descrever tais movimentos aleatórios, que muitas vezes é chamado de teoria da partícula.

No bate papo com o Nobel, Ciência & Esporte

Após a conferência proferida por Kurt Wüthrich, os participantes da 39a. Reunião Anual da SBQ tiveram a oportunidade de fazer perguntas diretamente ao Nobel. No bate papo mediado pelo professor Etelvino Bechara (USP), a dois meses dos jogos Olímpicos Rio 2016, os estudantes puderam conhecer o lado esportista do cientista e saber como que a prática de esportes pode ter o influenciado a conquistar o Nobel, a “medalha de ouro” da área científica.

Kurt Wüthrich, que antes de obter o seu PhD em Química formou-se em Educação Física, disse que se tornou bastante competitivo na Ciência por causa dos esportes. Para ele, o esforço intelectual é tão árduo quanto o esforço físico. Além do futebol, disse também que era adepto de outros esportes como o salto em altura e a pesca esportiva. Para comprovar a sua desenvoltura no assunto, Wüthrich compartilhou com a plateia fotos de sua juventude, tecendo metáforas entre o fazer científico e a prática esportiva.

"No salto com vara, por exemplo, você precisa levantar a barra aos poucos para tentar saltos mais altos. Nesse esporte é mais fácil saber se você está perto de ser campeão pelos centímetros que os adversários conseguem pular. Na Ciência é diferente, você acha que a sua pesquisa é boa, importante, mas não consegue mensurar. Você nunca sabe se o trabalho é muito bom" observou Kurt Wüthrich, dizendo que após ter feito a descoberta, em 1982, realmente achava que esta poderia lhe render o Nobel, mas teve que aguardar 20 anos para ser agraciado com o tão cobiçado prêmio na área cientifica.

Wüthrich também falou sobre a sua experiência na pesca esportiva para mostrar aos estudantes que, assim como nesse esporte, na Ciência, é necessário você encontrar objetivos realistas e usar a metodologia correta para ser bem sucedido. Para o cientista, há momentos que você precisa perceber que está no caminho errado, mas não pode, entretanto, desistir. "Quando há a sensação de uma derrota no esporte você intensifica o treinamento. Na ciência, você pensa mais e busca as soluções. São momentos difíceis, mas muito úteis também. Você não pode desistir. É necessário se esforçar bastante para se ter um bom resultado, ou seja, pegar o seu peixe grande” - observou.

Atualmente o professor Kurt Wüthrich trabalha com receptores acoplados à proteína G, que são alvos de 40% dos medicamentos prescritos hoje em dia. O seu maior desafio, segundo ele mesmo, é estudar como as proteínas se desdobram, pois essa pode ser a chave para a cura de diversas doenças e o desenvolvimento de futuros medicamentos.

Link com a Biografia do Nobel:

https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/2002/wuthrich-bio.html


Foto: Marcus de Melo/Divulgação SBQ


Foto: Marcus de Melo/Divulgação SBQ


Foto: Marcus de Melo/Divulgação SBQ
 

Foto: Marcus de Melo/Divulgação SBQ
 

 
     
     
   
     
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