Zika: vírus infecta tecido cerebral adulto
Estudo dos pesquisadores da UFRJ publicado na Nature Communications demonstrou que o vírus Zika infecta tecido cerebral adulto. Os cientistas descobriram que o vírus Zika em fragmentos de tecido cerebral de pacientes adultos além de provocarem a infecção continuavam se replicando, ou seja, produzindo novas partículas virais capazes de infectar outras células. Até então, acreditava-se que o vírus Zika infectasse apenas as chamadas células progenitoras ou neurônios ainda imaturos, como ocorre no cérebro em desenvolvimento dos fetos.
O achado do grupo da UFRJ explica os muitos casos de complicações neurológicas causadas pela infecção do vírus Zika em adultos, no surto ocorrido em 2015, conta Claudia P. Figueiredo, que liderou a equipe. Essas complicações incluem desde quadros transitórios de confusão mental e dificuldade locomotora até situações bastante graves e demonstram que os danos causados por esse vírus estão longe de estarem restritos às grávidas e bebês.
Estudos prévios já haviam demonstrado a presença do vírus Zika no líquor, o líquido que banha o sistema nervoso central, de pacientes adultos na fase aguda da infecção. Para estudar as consequências da infecção, os cientistas inocularam o vírus isolado de um paciente brasileiro no cérebro de camundongos adultos. Inicialmente, constataram que o vírus infecta e se multiplica especialmente em áreas do cérebro relacionadas com o controle motor e de memória.
Em seguida, o grupo, que contou ainda com a participação de Sérgio T. Ferreira e Andreia Da Poian, ambos também da UFRJ, descobriu que os camundongos infectados pelo vírus apresentavam problemas motores e de memória, de forma coerente com as áreas do cérebro mais afetadas. Os cientistas perceberam, ainda, que esses sintomas permanecem mesmo após a infecção ter sido controlada nos camundongos.
Outra descoberta importante do estudo foi que um medicamento anti-inflamatório hoje usado para o tratamento da artrite reumatoide, cujo nome genérico é infliximab, pode diminuir os prejuízos neurológicos causados pelo vírus da Zika.
Os cientistas acreditam que a descoberta pode contribuir para o estabelecimento de políticas de saúde pública que visem identificar as possíveis complicações neurológicas da Zika em pacientes adultos e para o desenvolvimento de tratamentos para combater a doença.
O artigo intitulado “Zika virus replicates in adult human brain tissue and impairs synapses and memory in mice” pode ser lido online na Nature Communications.
A pesquisa foi financiada pela Rede de Pesquisa em Zika, Chikungunya e Dengue no Estado do Rio de Janeiro, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Crédito da imagem: Fernanda Barros Aragão
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Por AsCom INBEB
Publicado em 05/09/2019
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